INÊS DE MEDEIROS

Presidente da Câmara Municipal de Almada

Imaginado em redor das estações do ano, o Festival de Música dos Capuchos 2023 coloca em diálogo compositores que, ao longo de mais de 4 séculos, exploraram este conceito, de Vivaldi a Tchaikovsky, e de Piazzolla a Philip Glass. A partir destas estações são invocados outros artistas e outros tempos – históricos, filosóficos ou estivais. É através da exploração desta relação entre a passagem do tempo e a natureza – humana, divina, natural – no indissociável cruzamento entre a forma e conteúdo, que a obra destes artistas se assume como um ritual cultural de contemplação e de descoberta. 

Ao longo das três últimas edições, o Festival também se tem vindo a afirmar como um espaço de partilha e de diálogo, onde a palavra escrita é celebrada com a evocação de grandes nomes da literatura. As Conversas dos Capuchos, com curadoria de Carlos Vaz Marques, dedicam esta edição ao centenário dos nascimentos de Mário Cesariny de Vasconcelos, Natália Correia e Eugénio de Andrade. Na procura de melhoria e diversificação constante, este ano marcará também a estreia das Masterclasses dos Capuchos, orientadas por professores de referência internacional – conversas pré-concertos denominadas Prelúdios dos Capuchos, com moderação de João Almeida, e da Caminhada dos Capuchos, na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica.

Alargando a sua programação para vários espaços, nesta edição haverá concertos no Convento dos Capuchos e, de forma inédita, 3 concertos no Teatro Municipal Joaquim Benite. Quanto aos artistas, o Festival volta a acolher conjuntos de referência e excelência internacional, com particular destaque para a Orquestra Barroca de Veneza “I Solisti Veneti”, a Orquestra de Câmara de Budapeste “Franz Liszt” e o Quarteto Hermès. São também muitos os grandes solistas internacionais que vão pisar os palcos do Festival, entre os quais se destacam os violinistas Mario Hossen, Jack Liebeck e Esther Hoppe, as cantoras Lena Belkina, Ana Karina Rossi e Deniz Uzun, o violoncelista Christian Poltéra, o clarinetista Pascal Moraguès, a pianista Marianna Shirinyan, e o lendário pianista norte-americano Stephen Kovacevich.

A aposta na excelência nacional é uma marca do Festival, que contará com a participação do coro Officium Ensemble, o DSCH Schostakovich Ensemble, bem como novos projetos musicais, o 100 Caminhos e o Juventus Ensemble, que juntam jovens e consagrados músicos portugueses. Não posso deixar de agradecer a homenagem que propõe a António Victorino d’Almeida, – meu pai para quem não saiba – com o concerto Carta Branca, que assinala os seus 70 anos de atividade artística. Confesso que hesitei quando li a proposta, mas sendo a programação da exclusiva responsabilidade e com total liberdade de Filipe Pinto-Ribeiro, considerei que em caso algum deveria interferir de modo a não abrir qualquer precedente.

O Festival de Música dos Capuchos ocupa um espaço inegável no panorama cultural nacional ao mesmo tempo que não hesita em estender a sua programação por todo o concelho, convocando este nosso território de muitos e todos os que aqui habitam e visitam a tomar parte neste ritual cultural.

Um agradecimento especial ao Filipe Pinto-Ribeiro, que tem a responsabilidade de construir o Festival e da Direção Artística e à Companhia de Teatro de Almada, que este ano se junta a esta equipa, assim como aos serviços culturais da Câmara Municipal que tornam este grande sonho possível.

Um agradecimento também sentido ao principal mecenas e parceiro do evento, a Fundação BPI/La Caixa, por continuar a apostar na promoção da música e dos artistas portugueses.

Inês de Medeiros

Presidente da Câmara Municipal de Almada

Filipe Pinto-Ribeiro

Director Artístico do Festival de Música dos Capuchos

Na Primavera, flores de cerejeira, no Verão, o cuco.
No Outono, a lua, e no Inverno, a neve, clara, fria.
Eihei Dogen (1200-1253)

O Festival de Música dos Capuchos 2023 é inspirado nas estações do ano, construindo um arco de quatro séculos que abre com as incontornáveis Le Quattro Stagioni, compostas por Vivaldi há 300 anos, e encerra com a estreia em Portugal de The American Four Seasons, que Philip Glass escreveu em 2009, a que se juntam os ciclos de estações de Tchaikovsky, no séc. XIX, e de Piazzolla, no séc. XX.

A sucessão das estações do ano é uma das nossas evidências da passagem do tempo e o Festival dos Capuchos 2023 apresentará concertos dedicados a diversas dimensões temporais: obras corais do tempo da fundação do Convento dos Capuchos, a Renascença; o tempo da criação em La Création du Monde de Darius Milhaud; repertório inspirado no tempo estival, como Les Nuits d’Eté de Hector Berlioz, Summer Music de Samuel Barber, Summertime de George Gershwin; o tempo do apocalipse redentor do Quatuor pour la Fin du Temps de Olivier Messiaen…

O Festival de Música dos Capuchos 2023 realiza-se, como habitualmente, no local que lhe dá o nome, o Convento dos Capuchos, e, pela primeira vez, apresenta três concertos no Teatro Municipal Joaquim Benite. Estarão presentes artistas e ensembles de renome, entre os quais se destacam, internacionalmente, “I Solisti Veneti”, a Orquestra “Franz Liszt” de Budapeste e o Quarteto Hermès de Paris, a que se juntam agrupamentos de referência nacionais como Officium Ensemble, DSCH Schostakovich Ensemble, 100 Caminhos. Entre os grandes solistas internacionais de várias gerações que marcarão presença, realce para o grand seigneur do piano Stephen Kovacevich, há mais de meio século entre a elite mundial, que nos oferece um recital com obras de Ludwig van Beethoven e Alban Berg.

Ao longo do festival, serão interpretadas obras de vários compositores portugueses de vários tempos, da Renascença à música contemporânea, com várias estreias absolutas e destaque para o concerto “Carta Branca a António Victorino d’Almeida”, assinalando os seus notáveis 70 anos de actividade artística.

É ainda de sublinhar que o Festival dos Capuchos 2023 apresentará a estreia em Portugal de obras de dois dos mais influentes compositores das últimas décadas, nomeadamente Orient & Occident (2000), do estoniano Arvo Pärt, e American Four Seasons (2009), do norte-americano Philip Glass.

O ciclo das já emblemáticas “Conversas dos Capuchos”, com curadoria e moderação de Carlos Vaz Marques, será dedicado aos centenários de três grandes nomes da literatura portuguesa: Mário Cesariny de Vasconcelos, Natália Correia e Eugénio de Andrade – curiosamente nascidos os três precisamente em 1923! 

Nesta edição de 2023, o Festival dos Capuchos inaugura o seu relevante eixo formativo, com a apresentação das Masterclasses dos Capuchos, orientadas por professores dos Conservatórios de Paris, Salzburgo e Lucerna.

Também pela primeira vez, será apresentado um conjunto conversas pré-concertos, denominadas Prelúdios dos Capuchos, com moderação de João Almeida. E o festival será ainda complementado por actividades de sensibilização ecológica e patrimonial, como uma Visita cultural ao património histórico do Convento dos Capuchos e uma Caminhada na envolvente do Convento, inserido na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, que apresenta importantes valores naturais que importa conhecer e valorizar. 

Detenho-me finalmente na extraordinária música do último concerto deste Festival, o Quarteto para o Fim do Tempo, obra-prima estreada durante a 2.ª Guerra Mundial, em 1941, quando Messiaen se encontrava preso num campo nazi e compôs este manifesto de fé e de redenção, num tempo de horror que hoje ecoa com grande estrondo num tempo de guerra em que a Europa está mergulhada há mais de um ano…

O objetivo último do Festival dos Capuchos é celebrar a arte e a vida em comunidade, construir pontes de compreensão e de paz entre os povos por intermédio da magnífica linguagem universal que é a música.

O meu bem-haja a todos os que tornam possível a realização do Festival de Música dos Capuchos, começando pela Câmara Municipal de Almada e os seus serviços municipais, a Direcção-Geral das Artes, o Mecenas Principal BPI/Fundação “la Caixa”, a Companhia de Teatro de Almada, o Âmbito Cultural do El Corte Inglés, a RTP Antena 2 e, last but not least, a incansável equipa da DSCH Associação Musical responsável pela organização do Festival. 

O poema que serve de epígrafe a este texto foi escrito no séc. XIII pelo mestre zen budista Eihei Dogen. Na simplicidade aparente, mas expressiva, com que descreve a beleza das estações do ano, Dogen liga-nos à essência de elementos que se sucedem ao ritmo das estações. Dogen deu o título de Espírito Inato ao seu poema, um espírito de contemplação, descoberta e partilha que inspira esta edição de 2023 do Festival dos Capuchos.

Filipe Pinto-Ribeiro

Director Artístico do Festival de Música dos Capuchos