@Luis Catarino
INÊS DE MEDEIROS
Presidente da Câmara Municipal de Almada

 “A ARTE deve ser livre porque o acto de criação é em si um acto de liberdade. Mas não é só a liberdade individual do artista que importa. Sabemos que quando a Arte não é livre o povo também não é livre. Há sempre uma profunda e estrutural unidade na liberdade. Onde o artista começa a não ser livre o povo começa a ser colonizado e a justiça torna-se parcial, unidimensional e abstrata. (…)

A demagogia é a traição cultural da revolução. Porque a demagogia é a arte de ensinar um povo a não pensar. Um provérbio africano diz: Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba. Não queremos continuar a suportar a baba dos slogans. (…)

A cultura é cara. A incultura acaba sempre por sair mais cara. E a demagogia custa sempre caríssimo.”

A 12 de julho de 1975, Sophia de Mello Breyner, então deputada da Constituinte escreve um artigo de opinião no Expresso onde estabelece muito claramente a importância de uma cultura livre mas também identifica os perigos que a ameaçam. Hoje, o contexto político é totalmente diferente, mas alguns destes perigos voltam a surgir pelo que é imperativo, especialmente neste momento em que se celebram os 50 anos da revolução de abril, que as suas palavras sejam recordadas.

Não apenas recordadas, mas vividas, adoptadas, incorporadas, encarnadas, em cada gesto de criação e de programação.

A programação do
Festival de Música dos Capuchos deste ano, é sinónimo disso mesmo. É uma celebração da expressão intemporal da Liberdade e por isso aborda-a nas suas múltiplas perspectivas, ao longo da História da Música: liberdade de criação, liberdade de interpretação, liberdade de quebrar dogmas, liberdade da vanguarda. Este ano acolhemos a interpretação de obras de compositores extraordinários como Beethoven, Mozart, Haydn, Schubert, Chopin, Paganini e Schostakovich e de compositores renascentistas, como o português Pedro de Cristo.

Entre estas obras está também a ópera de Philip Glass, “Na Colónia Penal”, que novamente nos remete para a memória da resistência e da luta pela liberdade pela qual tantos foram votados ao encarceramento e à opressão.

Este ano homenageamos também António Mega Ferreira, figura incontornável da Cultura portuguesa no pós-25 de abril, para quem esta não era apenas uma contemplação longínqua, mas força motriz do nosso próprio ser, e a quem devo tanto do meu próprio percurso criativo.

Continuamos a aposta nas já celebradas Conversas dos Capuchos, que se irão debruçar sobre três vultos literários – Kafka, Sebastião da Gamas e Luís Vaz de Camões, cujos 500 anos do seu nascimento também celebramos em 2024, bem como um extenso conjunto de actividades de formação e sensibilização no Convento dos Capuchos.

É precisamente o Convento que dá nome ao Festival que acolherá a maior parte dos concertos, conversas e actividades, mas este irá também deambular por esta nossa Almada, este território de muitos, com apresentações no Teatro Municipal Joaquim Benite e no Auditório Fernando Lopes-Graça.

O Festival de Música dos Capuchos, em ano de celebração do cinquentenário daquela que é a nossa maior conquista colectiva, assume-se, no âmbito da sua missão de democracia cultural, como espaço de reflexão e memória, mas acima de tudo de esperança.

Um agradecimento especial ao Filipe Pinto-Ribeiro, que tem a responsabilidade de construir o Festival e da Direção Artística, ao principal mecenas e parceiro do evento, a Fundação BPI/La Caixa, e a todos os outros parceiros que aceitaram participar connosco neste projecto.

FILIPE PINTO-RIBEIRO
Director Artístico do Festival de Música dos Capuchos

Neste ano de 2024 em que celebramos o cinquentenário do 25 de Abril, o Festival de Música dos Capuchos é inspirado pela(s) ideia(s) de Liberdade ao longo da História da Música.

Entre 29 de Maio e 21 de Junho, o Festival dos Capuchos trará a Almada músicos e orquestras de referência nacional e internacional para uma série de concertos imperdíveis, no local que dá nome ao Festival, o Convento dos Capuchos, e ainda no Teatro Municipal Joaquim Benite e, pela primeira vez, no Auditório Fernando Lopes-Graça.

Estarão presentes artistas e ensembles de renome, entre os quais é de realçar, desde logo, a estreia em Portugal de um dos projectos orquestrais mais audaciosos dos últimos anos, a Orquestra Sinfónica de Paris “Consuelo” que, sob a direção de Victor-Julien Laferrière, abrirá o festival com a 5ª Sinfonia de Beethoven, obra-prima indiscutível e poderosa evocação da luta contra as adversidades e do triunfo da Liberdade.
Destaque-se ainda os concertos de estreia em Portugal de outros agrupamentos da vanguarda musical europeia, como o Paganini Ensemble de Viena e a Orquestra de Câmara de Berlim “Metamorphosen”, sob a direcção de Wolfgang Emanuel Schmidt.

Entre os grandes solistas internacionais que marcarão presença nesta edição, realce para a lendária pianista Elisabeth Leonskaja, a violinista alemã Carolin Widmann, o violoncelista suíço Christian Poltéra e o jovem pianista ucraniano Roman Fediurko, vencedor do prestigiado Concurso Internacional Horowitz em 2023, que interpretará obras de Chopin neste que será o seu recital de estreia no nosso país.
A presença nacional estará a cargo de agrupamentos de referência, entre os quais o ensemble renascentista Arte Minima e o Schostakovich Ensemble, e de músicos como o pianista Júlio Resende, com o seu Fado Jazz Ensemble, o maestro Martim Sousa Tavares e a violetista Sofia Silva Sousa, entre muitos outros.
Na composição, o destaque vai para obras de BeethovenMozartHaydnSchubertChopinPaganini e Schostakovich; obras de compositores renascentistas, como o português Pedro de Cristo; e a ópera de Philip Glass “Na Colónia Penal”, a partir do conto homónimo de Franz Kafka.

É ainda de realçar a estreia mundial de uma nova obra da premiada compositora portuguesa, residente em Nova Iorque, Andreia Pinto Correia e o concerto de homenagem póstuma a António Mega Ferreira, um dos maiores vultos da cultura e do pensamento portugueses do pós-25 de Abril.

O ciclo das já emblemáticas Conversas dos Capuchos, com curadoria e moderação de Carlos Vaz Marques, será dedicado a três efemérides literárias de 2024 – o centenário da morte de Franz Kafka, o centenário do nascimento de Sebastião da Gama e os 500 anos de Luís Vaz de Camões – , com a presença de convidados como Alberto ManguelJosé Carlos Seabra PereiraMaria BochichioNuno AmadoJosé Gardeazabal e Viriato Soromenho-Marques.

Em 2024, nesta que será a quarta edição do Festival de Música dos Capuchos após a interrupção de 20 anos entre 2001 e 2020 , serão ainda realizadas um conjunto de actividades de formação e sensibilização iniciadas na edição de 2023: conversas pré-concertos denominadas Prelúdios dos Capuchos com a moderação de João Almeida, diretor da Antena 2; a Visita ao património cultural do Convento dos Capuchos, construído no século XVI; a Caminhada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, onde está inserido o Convento; e as Masterclasses dos Capuchos, aulas abertas destinadas a jovens músicos e orientadas por professores dos Conservatórios de LeipzigLucerna e Helsínquia.

Neste cinquentenário do 25 de Abril, celebramos os ideais de Liberdade com uma programação que reafirma a missão do Festival de Música dos Capuchos como evento de referência, à escala nacional e internacional, promovendo assim o acesso democrático à cultura.

O nosso bem-haja a todos os que tornam possível a realização do Festival de Música dos Capuchos, em primeiro lugar à Câmara Municipal de Almada e aos seus serviços municipais, à Direcção-Geral das Artes, ao mecenas BPI/Fundação “la Caixa”, aos parceiros Companhia de Teatro de AlmadaÂmbito Cultural do El Corte InglésRTP Antena 2, e a Sua Excelência o Presidente da República pelo Alto Patrocínio novamente concedido.